Comemora-se, nesta terça-feira, 6, 122 anos desde o início da Revolução Acreana, movimento econômico que teve como principal conquista a anexação do Acre, antes território da Bolívia, ao Brasil. Ocorrido entre 6 de agosto de 1902 e 24 de janeiro de 1903, o movimento teve como principal marca a disputa pelo controle dos negócios relacionados à borracha.
Naquele contexto histórico, o Acre era um dos principais produtores dessa matéria-prima e era conhecido pela sua significativa produção para o suprimento mundial de borracha natural no final do século 19 e início do século 20 e foi essa batalha pelo território, segundo historiadores, que deu ainda mais destaque para a região naquela época.
Vale mencionar que o dia 6 de agosto era para a Bolívia, desde 1825, o que o 7 de setembro representa para o Brasil, como data de independência do país boliviano do domínio espanhol. Alguns historiadores contam que a ideia era começar a chamada Revolução Acreana no dia 14 de julho de 1902, porém, um atraso na entrega de armas acabou contribuindo para o início da batalha em agosto.
Liderados por José Plácido de Castro, os revolucionários aproveitaram as comemorações da Independência da Bolívia para atacar. Ao longo dessa luta pela anexação do Acre ao Brasil, foram diversos episódios e fases como a insurreição, em 1899, o Estado Independente do Acre, a república do Presidente Galvez, também em 1899, e a Expedição dos Poetas, em 1900.
A revolução terminou em 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexou de vez o Acre ao Brasil. A história já foi tema de inspiração para uma minissérie da TV Globo, que foi ao ar em 2007: Amazônia – de Galvez a Chico Mendes, escrita pela novelista acreana Glória Perez. A obra apresenta, entre outros momentos da história do estado, fatos e personagens que fizeram parte dessa batalha.
Analisando o contexto da disputa, Sérgio Souza, professor associado do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre, alerta que há uma vertente de historiadores que entendem que esse movimento ocorreu em um território, que, como tantos outros do Brasil, já era ocupado pelos povos originários.
Segundo ele, a Revolução Acreana foi uma disputa pela seringa em abundância que a região mantinha em uma época que a matéria-prima, no caso, a borracha, estava em alta. Para ele, deve-se lembrar que, na verdade, foi um processo de colonização e que a história “precisa reconhecer os demais atores dessa história”: os povos originários e os mais de 20 mil brasileiros, em sua maioria nordestinos, que migraram para a região em busca do ouro daquela época, que era a borracha.
“Essa perspectiva da invenção do Acre a partir da borracha e a partir do que se chamou de Revolução Acreana está diretamente relacionada aos processos de expansão do mundo moderno colonial, cuja lógica é desenvolver processos intensos de racialização [ processo em que grupos passam a ser designados como pertencentes a uma “raça” específica para justificar um tratamento desigual.] de populações colonizadas, de exploração de suas riquezas de seus territórios e dessa mão de obra. Com o processo de inserção da borracha no mercado internacional, esse passou a ser um espaço de colonização, de disputa em uma perspectiva colonial; não é uma ocupação, o que se disputa é conquista de territórios, que, antes de bolivianos e seringueiros, pertence à população originária, então é muito importante fazer esse recorte”, destaca o historiador.
O resgate das raízes
A dualidade e controvérsias dessa ocupação, no entanto, não interferem no sentimento de pertencimento que hoje o acreano nutre. Apesar de uma linha da história entender que há uma romantização dessa disputa e que o movimento não foi movido pelo patriotismo, mas sim pelo valor econômico da terra, o que não muda é que hoje o acreano tem orgulho do seu estado.
Além disso, esses fatos históricos fazem parte da cultura do acreano, que hoje se encontra em uma região de tríplice fronteira e que carrega no sangue e nos hábitos as influências de seus antepassados, sejam eles indígenas, nordestinos ou seringueiros.
Ao longo de seus mandatos, o governador Gladson Cameli tem trabalhado para fortalecer essa história, resgatar as raízes e unir o desenvolvimento à preservação, dando espaço para que cada ator deste contexto dialogue entre si e consiga resultados positivos, que impactam diretamente na qualidade de vida da população.
“Como gestor de um estado, tenho consciência que só podemos avançar cada vez mais olhando para trás, conhecendo nossa história, para que a gente consiga progredir respeitando todos os setores e ouvindo quem tem propriedade para falar. Governo para todas as pessoas e todas as minhas obras, ações e decisões são tomadas com base naquilo que é melhor para o povo. Claro que não agrado a todos, mas no meu governo é democrático e sempre há espaço para o diálogo”, destaca.
Passado, presente e futuro
Se há oito mil anos os indígenas eram donos desse espaço, a valorização da cultura precisa ser um dos pontos fortes dessa gestão. Com o objetivo de fortalecer políticas públicas destinadas a promover e proteger os direitos dos povos indígenas, o governador do Acre, Gladson Cameli, criou a Secretaria Extraordinária de Povos Indígenas (Sepi) em julho do ano passado.
Atualmente o estado tem 18 povos, distribuídos em 36 terras indígenas, que registram 246 aldeias. “Depois da criação da Sepi, aplicamos mais de R$ 2,1 milhões com pagamento de bolsas, implementação dos planos de gestão e apoiamos dez associações indígenas com emenda parlamentar. Primeiramente estruturamos a Sepi. O primeiro momento foi criar o CNPJ e todo aquele passo a passo, que é um mundo de coisas. A gente veio a executar, de fato, o recurso no final de novembro”, destaca a secretária Francisca Arara.
E este ano, de forma inédita, o governo incluiu no calendário oficial de eventos do estado mais de 20 festivais indígenas, que fortalecem a cultura e dinamizam a economia nessas comunidades, criando oportunidades para que tenham renda com seus artesanatos, culinárias e imersão na cultura.
A data da comemoração do início da Revolução Acreana, 6 de agosto, será lembrada pela inauguração da primeira etapa do Museu dos Povos Acreanos, uma obra idealizada e iniciada em 2018, mas concretizada na gestão do governador Gladson Cameli, em agosto do ano passado, compreendendo a importância da valorização da história e da cultura acreana.
Em 2023, o governo do Acre conseguiu entregar para a população, na capital, a revitalização do Teatro Barracão Matias, do Memorial dos Autonomistas e do Café do Teatro, do Museu da Borracha e melhorias na Usina de Arte e nas bibliotecas públicas de Rio Branco e de Cruzeiro do Sul. Além disso, fortaleceu a Lei de Incentivo à Cultura em todo o estado.
A expectativa para 2024, segundo a Fundação Elias Mansour (FEM), é de novas realizações, incluindo a reforma do Teatro Plácido de Castro e da Tentamen, em Rio Branco, do Museu Chico Mendes, em Xapuri, e dos espaços de memória no Quixadá.
“Todos esses projetos estão com os processos de licitação em andamento. São mais R$ 16 milhões da Pnab [Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura], um volume de incentivo financeiro nunca visto antes na história da cultura do Acre”, esclarece o presidente da FEM, Minoru Kinpara.
Foi também em agosto do ano passado que o governo entregou, revitalizado, o Museu da Borracha. Kinpara diz que o Acre vive um momento ímpar, com a entrega de tantos ambientes ligados à cultura.
“Estamos muito felizes, porque o governador Gladson Cameli tem tornado possível a reabertura desses espaços. Isso demonstra o seu compromisso com a história e com o patrimônio acreano. Estamos cuidando de tudo com muito carinho para a nossa população”, destacou o gestor.
No Museu da Borracha, as exposições relatam, de forma cronológica, a chegada dos primeiros nordestinos ao Acre, a trajetória da extração e produção do látex e como se deu a expansão para o exterior. Projeções mostram os seringueiros no processo da defumação e pesagem, e áudios trazem depoimentos dos soldados da borracha, explicando como aconteceu o alistamento.
Impacto na vida das pessoas
Para além da preservação da história e cultura, é preciso cuidar do espaço onde os acreanos vivem. Para isso, duas grandes obras estão prestes a ser entregues, o que deve mudar a vida das pessoas.
O primeiro empreendimento é o anel viário, em Brasileia. Em maio deste ano, o governador Gladson Cameli, cumprindo o que havia sido acordado em março com o presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Fabrício Galvão, entregou as obras do anel viário de Brasileia e Epitaciolândia 99% concluídas, ao órgão federal, que vai finalizar o empreendimento.
O governador destacou que essa entrega reforça a união do governo federal, estadual e municipal para o avanço do desenvolvimento no Acre. “O nosso governo iniciou os trabalhos, tendo adiantado todo o processo. Como se trata de uma obra complexa, que demanda tempo e recursos, o governo federal, por meio do Dnit, também passou recentemente a participar, viabilizando os acessos aos viadutos”, informou.
Outra obra que vai mudar a vida das pessoas, dando mais qualidade ao serviço ao mesmo tempo que gera emprego e renda, é a nova maternidade de Rio Branco, que está sendo construída no bairro Canaã.
Com todas as fases prontas, a nova maternidade contará com 150 leitos de enfermaria clínica e obstétrica; 16 salas de pré-parto, parto e pós-parto (PPP); 7 salas de cirurgia e de parto cesariano; 10 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) adulto; 30 leitos de UTI neonatal; 30 leitos de unidade de cuidados intermediários (UCI); e 15 leitos de UCI canguru. A unidade ainda terá a Casa da Gestante, Bebê e Puérpera, para atender gestantes de alto risco.
Um marco na história do Juruá, assim foi definida a inauguração do aparelho de ressonância magnética, que vai agilizar e qualificar o atendimento aos moradores da região. Cerca de 300 pacientes são atendidos por mês, agilizando o processo desse tipo de exame.
Para o governador Gladson Cameli, esta é mais uma ação que reforça a união dos governos estadual e federal, para o benefício da comunidade. Uma gestão que prioriza a união dos poderes é o que defende o chefe do Executivo.
“A otimização das equipes, Estado, Município e Legislativo, tem proporcionado que a gente foque em ações desde a atenção básica até custos estaduais”, frisou, ao entregar a obra.
No final do ano passado, a Ponte Frei Paolino Baldassari, em Sena Madureira, que integra o Primeiro e Segundo Distrito da cidade, finalmente saiu do papel. O trajeto era feito via terrestre, pela BR-364, ou por catraia, atravessando o rio, e agora, com a nova construção, o caminho entre os distritos é interligado por 232 metros de ponte.
“Meus pais moram aqui no ramal há 70 anos, numa comunidade que há décadas vinha sendo ilhada, e hoje, graças a Deus, e ao governador Gladson Cameli, alcançamos essa conquista, que não tem preço”, relatou Gerbson Santana, morador do Ramal Mário Lobão.
Carlos D’Ávila, morador de Sena, conta que, em seus 61 anos de vida, via o povo sofrer com a travessia no Rio Iaco. “Foi prometido e foi cumprido. Há anos a população sofria sem essa ponte, e agora o governador Gladson honrou seu compromisso, entregando essa obra que vai mudar a nossa vida”, afirmou o servidor público.
E, durante a entrega da obra, o governador Gladson Cameli se comprometeu com outro grande sonho da população. “Nossos esforços agora vão se direcionar para a próxima grande obra no município, o Hospital João Câncio Fernandes. Nosso objetivo é entregar o quanto antes essa construção tão importante para a população sena-madureirense”, destacou.
Diante de uma data comemorativa como esta, cabe lembrar que a bandeira acreana traz simbologias, principalmente da época dos conflitos. Segundo a história, a cor amarela representa a riqueza da terra, enquanto o verde representa longevidade, força e esperança.
Já a estrela vermelha no canto superior esquerdo é uma homenagem à Revolução Francesa, que tinha ocorrido 110 anos antes da fundação do Estado Independente do Acre. A estrela na bandeira representa o sangue dos que lutaram pela anexação da área do atual Estado do Acre ao Brasil.
O que cada acreano carrega dessa história é cantado no hino:
“Fulge um astro na nossa bandeira
Que foi tinto com sangue de heróis
Adoremos na estrela altaneira
O mais belo e o melhor dos faróis.”
E, para além das guerras já vencidas, o acreano que já tem como fama o bairrismo, reproduz o recado do hino.
“Mas se audaz estrangeiro, algum dia
Nossos brios de novo ofender
Lutaremos com a mesma energia
Sem recuar, sem cair, sem temer.”
Fonte: Agência de Notícias do Acre